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Rafael Drummond, do Pro Coletivo

Seminário organizado pela Folha traz ótimas ideias para melhorar a mobilidade paulistana


“Não queremos uma cidade para pedestres e ciclistas apenas, mas uma cidade para todos, onde o carro seja parte integrante e não dominante”. Esse clamor expressado por Carlos Aranha, representante da Cidadeapé - Associação pela Mobilidade a pé em São Paulo, permeou grande parte das mesas do 2º Seminário de Mobilidade Urbana, evento organizado pelo jornal Folha de S. Paulo na segunda, dia 22, que debateu os desafios, entraves e as soluções para melhorar a mobilidade nas grandes cidades.

Para Aranha, é necessário revisar a utilização do espaço público. “Quando falo do espaço público não falo somente do viário, mas sim do espaço de muro a muro, de lote a lote, incluindo calçada, canteiro central, faixas exclusivas de ônibus, ciclovias etc. Hoje, dados da CET dizem que 78% do espaço viário é ocupado por veículos particulares, que levam menos de ⅓ da população”, aponta.

A condição do trânsito ainda pode ser aprimorada e o uso de dados complexos da movimentação de veículos e pessoas na cidade contribuirá para isso. As possibilidades provenientes do uso do big data fez com que o tema mobilidade voltasse a ganhar força na agenda pública, porém, as soluções dos problemas do Brasil não serão resolvidos somente com o uso de novas tecnologias. Esse é o pensamento de Bruno Batista, diretor-executivo da CNT (Confederação Nacional de Transporte), para quem o remédio inclui a redução do uso do espaço viário pelos veículos particulares. “A solução dos problemas de trânsito no Brasil vai passar pela adoção em maior escala do uso do transporte coletivo. Não será o levantamento de dados que irá resolver isso. O que vai acabar acontecendo é que as pessoas ficarão paradas no trânsito olhando seus celulares e gerando dados de tráfego”, afirma Batista.

Um dos grandes entraves para um maior uso do transporte coletivo é a falta de infraestrutura adequada para os fluxos nas grandes cidades. Para o presidente do Metrô de São Paulo, Paulo Menezes, a malha do metrô conseguirá ser aumentada por meio de bom planejamento e bons projetos de engenharia, além de parceiros privados que cumpram os cronogramas de obras. Parcerias essas que são a aposta do governo da Bahia para a expansão do sistema de trilhos em Salvador. Para Rui Costa, governador do estado, é necessário acertar a modelagem. “As PPPs (Parcerias Público-Privada) com riscos compartilhados entre poder público e ente privado são o modelo que o governo da Bahia está aplicando. Queremos que a rede cresça. A modelagem entre poderes também deve mudar para que não haja entraves desnecessários às obras”, explica o governador baiano.

A discussão sobre modelos de gestão e contratos com operadores de transporte também está sendo feita pela prefeitura de São Paulo. Até o começo de fevereiro está aberta para consulta pública a nova licitação dos serviços de ônibus da cidade. Sergio Avelleda, secretário de transporte e mobilidade, explicitou a importância deste momento: “A licitação dos ônibus de São Paulo é um desafio raro do ponto de vista do seu acontecimento e complexo do ponto de vista de sua execução. A última oportunidade que tivemos de rearranjar o sistema foi há 15 anos, e de lá para cá a cidade mudou muito. O sistema exige que haja um ajuste e a licitação é o momento de fazer esse ajuste”. Segundo o secretário, haverá mudanças significativas como a adoção de metas de redução de emissão de poluentes, aumento da capilaridade da rede, uso de telemetria para avaliar motoristas e evitar acidentes, assim como o aumento de ofertas da média de lugares nos ônibus que devem subir de 75 para 90 assentos.

Para Francisco Christovam, presidente da SPUrbanuss (Sindicato das Empresas de Transporte Coletivo Urbano de Passageiros de São Paulo), os ônibus são muito mais flexíveis que os sistemas sobre trilhos e eles ainda terão papel primordial para a mobilidade da capital paulista. Porém, neste momento de redefinições do sistema, Christovam aponta 5 pilares fundamentais para a garantia de serviços de boa qualidade: “Necessitamos de veículos de boa qualidade, infraestrutura adequada com vias exclusivas e segregadas para ônibus, retirada de estacionamento de veículos onde passam transporte público, monitoramento em tempo real do sistema e melhor comunicação com nossos clientes”.

Com a intenção de que os planos de mudanças no sistema de ônibus se efetivem, é também preciso que haja uma parceria não somente das empresas operadoras com o poder público, mas destas com a sociedade civil. Essa é a opinião de Gabriel Tenenbaum, especialista em transporte público do ITDP (Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento), que também reforça a necessidade da participação popular na consulta pública e nos processos de modificações das linhas de ônibus da cidade. “Quando essa nova rede for implementada na cidade, será crucial a participação de organizações da sociedade civil, de coletivos locais, de associações de moradores na reestruturação das linhas. Esse será o primeiro impacto que as pessoas vão sentir e elas precisam participar dessa discussão”, afirma Tenenbaum.

Ao final, ficou claro que precisamos de cidades mais integradas e analíticas, com infraestrutura de transporte público robusta, menos carros nas ruas e mais gente nos espaços públicos. Metrópoles voltadas para as pessoas e com a participação de todos. Cidades ocupadas são mais humanas, gentis, saudáveis, modernas, democráticas e inteligentes.

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