A pandemia e a mobilidade
É consenso que a aglomeração facilita a transmissão da Covid-19, mas também sabemos que o isolamento social não é possível para muita gente, como os que atuam nos serviços essenciais e na linha de frente contra o vírus. A crise sanitária, que nessa fase aguda exige isolamento ainda mais restritivo, não liberou essa significativa fatia da população do deslocamento diário. E a rede de transporte coletivo das grandes cidades continua trabalhando com alta taxa de ocupação. Em São Paulo, estações do Metrô e da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) mostram fluxo constante, em contraste com as ruas quase desertas. Algumas linhas de ônibus também operam no limite.
Ônibus no Largo 13 de Maio, foto de João Benz
De acordo com a NTU, Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos, as empresas de ônibus tiveram redução média de 40,8% no número de passageiros e diminuição de apenas 20,8% na oferta dos serviços, e estão cumprindo seus papéis preventivos, com a adoção de protocolos sanitários, oferta de equipamentos de proteção e de produtos de higienização aos colaboradores, além de ações de limpeza e desinfecção das frotas.
Mas isso não é suficiente. O que realmente importa é investir maciçamente na cobertura e na eficiência do transporte coletivo. Se já tivéssemos construído uma malha metroviária e ferroviária de porte e qualidade, não haveria gente espremida em vagões, estações e ônibus em tempos normais e nesses tristes tempos atípicos.
Metrô paulistano, foto de Bruno Rocha/Fotoarena
No caso do ônibus, reduzir a oferta nesse momento, como vem sendo feito, a fim de aliviar financeiramente as empresas do setor, não faz sentido. Há um grande risco de contágio, especialmente nas periferias, onde a desigualdade social é maior e o serviço de transporte coletivo é ruim. O contrário seria inteligente: aumentar o número de veículos nos trechos e nas linhas mais congestionadas, favorecendo a população que sempre sofreu no vaivém nas ruas. E que agora se locomove com medo em plena pandemia.
Quanto mais o poder público, de forma individual ou por meio de parcerias, investir na ampliação da oferta e da qualidade do transporte coletivo, melhor será a qualidade de vida e a saúde da população.
Também será necessário ampliar e melhorar a infraestrutura para quem pedala e caminha nas cidades, como fizeram vários países, criando ciclovias temporárias, implementando programas de subsídios para facilitar a compra de bicicletas e aumentando as calçadas e áreas para pedestres.
Ou seja, mobilidade, qualidade de vida e saúde pública são temas cada vez mais interligados nas complexas relações urbanas do século 21.
Avenida Paulista aberta aos domingos, na pré pandemia
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