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Compostar é preciso!

Chantal Brissac

Cascas, sementes e bagaços de frutas, sobras de ervas, raízes e legumes, talos de verduras, cascas de ovos, borra de café e de chá, folhas secas, serragem e podas de jardim. Toda essa matéria orgânica, que costumamos chamar de “lixo”, é na verdade um “tesouro”: são resíduos de alto valor biológico e com o poder de estimular a vida no solo e melhorar a saúde do nosso planeta. E como aproveitá-los? Compostando!


A compostagem é um processo biológico que decompõe e recicla matéria orgânica transformando-a em adubo, uma prática cidadã que traz vários benefícios. Para começar, ela reduz em 50% o lixo gerado em casa e diminui a quantidade de resíduos enviados aos aterros sanitários e lixões, onde misturados com outros materiais causam mau cheiro, liberam gás metano e chorume, que tem potencial de contaminar solo e água.


Composteira da Alameda das Folhas, iniciativa da Associação Viva Moema e moradores da região
Composteira da Alameda das Folhas, iniciativa da Associação Viva Moema e moradores da região

A compostagem dos resíduos orgânicos reduz a dependência de fertilizantes químicos, ajuda a recuperar a fertilidade do solo e melhora a retenção de água e a entrega de nutrientes às plantas. Além disso, é uma atividade gostosa e divertida, que pode envolver comunidades, vizinhos e famílias no contato com a natureza. E que ainda nos faz refletir sobre uma forma mais sustentável de consumo e de descarte de alimentos.


Em São Paulo, vários bairros contam com composteiras comunitárias, onde as pessoas podem depositar os resíduos vegetais em dias específicos. Alguns deles são Nossa Senhora da Composteira, no Sumaré; Coletivo Composteira Butantã; Ecobairro Vila Mariana; Associação Viva Moema; Sociedade Amigos de Bairro do Jardim Marajoara e Horta das Flores, no Parque da Mooca.


Quem quer compostar dentro de casa, mas não quer usar minhocas (a vermicompostagem), pode optar pela compostagem seca, na qual a decomposição e a transformação do alimento em adubo são realizadas por microrganismos (bactérias e fungos). Em caixas ou recipientes projetados para isso, misturam-se os alimentos (sempre crus) com serragem ou folhas secas. A seguir, você encontra o detalhamento das técnicas, inclusive para quem pretende fazer a composteira em jardins, seja em casa, no condomínio ou em um espaço público da comunidade.


Lucas Chiabi, fundador do Ciclo Orgânico (RJ), uma das empresas pioneiras na coleta doméstica de resíduos
Lucas Chiabi, fundador do Ciclo Orgânico (RJ), uma das empresas pioneiras na coleta doméstica de resíduos

E há também, para quem não se anima com a ideia de colocar a mão na massa, empresas que fazem a coleta doméstica dos resíduos, levando-os para hortas urbanas onde são transformados em adubo, um modelo que inclui a entrega de um baldinho para que a pessoa armazene os alimentos e a coleta semanal. Um dos pioneiros é o @cicloorganico, no Rio de Janeiro. Em São Paulo, há a @plantafelizadubo, @ibiterraviva e @eurealixo.


Importante dizer que o composto orgânico, material final de um processo de compostagem bem-sucedido, é um excelente adubo para o uso agrícola na produção de alimentos, flores, plantas ornamentais aromáticas e medicinais, temperos, mudas, etc. Pode ser utilizado em jardins, hortas, pastos e, ainda, para a recuperação de áreas degradadas. Mesmo produzido em pequena escala, o composto possui diversos atributos para a recuperação da vida no solo, por disponibilizar nutrientes a longo prazo e elevar a qualidade nutricional das plantas. O emprego do composto orgânico para melhoria da fertilidade no solo é o coroamento do processo da compostagem. Graças aos ideais de sustentabilidade que inspiram aqueles que praticam a compostagem, evita-se que nutrientes importantes sejam concentrados em lixões e aterros sanitários, desperdiçando inestimáveis possibilidades de contribuir com a produção de alimentos saudáveis e melhorar significativamente a qualidade de vida das comunidades no planeta. O objetivo é contribuir para desmistificar e popularizar a compostagem no Brasil, inspirando cidadãos e instituições para a autogestão e para o aproveitamento do enorme potencial de vida presente nos resíduos orgânicos.

Fonte: Compostagem doméstica, comunitária e institucional de resíduos orgânicos: manual de orientação / Ministério do Meio Ambiente, Centro de Estudos e Promoção da Agricultura de Grupo, Serviço Social do Comércio



COMO FAZER UMA COMPOSTEIRA

A composteira pode ser montada de diferentes formas, amontoando-se o material orgânico a ser compostado na forma de pilhas, leiras ou mesmo por aterramento; ela pode ter tamanhos e formas diferentes pois depende da quantidade de material a ser compostado e espaço disponível para implementação do processo. Podem ser utilizados baldes de plástico ou caixas de madeira. Primeiramente, é preciso furar a parte de baixo da caixa para a saída do chorume (líquido resultante da decomposição da matéria orgânica). Além dos furos na base do recipiente, é importante furar as laterais para favorecer a aeração (entrada e saída de ar) da composteira. Em seguida, o fundo da composteira deve ser coberto com papelão. Depois é importante intercalar camadas de material seco, como papel e grama, com camadas de material úmido, como cascas de frutas e verduras. Vale ressaltar que as camadas de material úmido devem apresentar a maioria dos resíduos constituídos de alimentos crus. O passo seguinte é fechar a composteira para que os insetos não entrem. Os furos feitos na caixa permitirão que o ar entre e saia, acelerando a decomposição da matéria orgânica e a transformando em composto. Para acelerar ainda mais o processo, os resíduos orgânicos devem ser bem picados


Outro fator importante para condução da compostagem é o local em que deve ser montada a composteira, o qual deve considerar os seguintes aspectos: fácil acesso, períodos de sol e sombra, incidência do vento,

entre outros. Esses aspectos devem ser levados em consideração pois influenciam nas condições do processo de compostagem como presença de microrganismos, aeração, umidade e temperatura adequadas.


COMPOSTAGEM COMUNITÁRIA

Este método pode ser utilizado em condomínios de casas ou prédios, em um bairro, vila ou comunidade. Para o sucesso do modelo é necessário que um grupo tome a iniciativa e se dedique a mobilizar a comunidade para a construção coletiva do modelo. Assim, o primeiro passo é a sensibilização da comunidade para a importância, vantagens e cuidados da gestão comunitária de resíduos orgânicos. Há maior êxito e envolvimento de diferentes pessoas quando os projetos de compostagem estão associados a iniciativas de agricultura urbana para uso do composto. Desta forma, cria-se uma dinâmica virtuosa, em que a comunidade sente necessidade do composto para manter e expandir seus plantios e jardins, diminuindo as chances do processo ser abandonado. Na fase de mobilização comunitária, deve-se formar um grupo capacitado e ativo para realizar as ações necessárias, desde a educação ambiental até a sensibilização dos moradores.


COMPOSTAGEM NO CHÃO

A compostagem no chão é indicada para quando se tem um espaço de terra disponível para tal e também para quando se dispõe de um porte maior de resíduos. O resíduo deve ser colocado no espaço predefinido, alternando entre camadas de composto orgânico e camadas de matéria seca (ex: folhas ou serragem). É necessário regar a área a cada três dias e, por vezes, revirar o composto com o auxílio de uma pá para aumentar a aeração.


COMPOSTEIRA COM MINHOCAS

Quem procura um processo de compostagem mais rápido pode optar pela compostagem com minhocas, ou vermicompostagem, que também pode ser feita em casas e apartamentos com o uso da composteira doméstica. O vermicomposto, adubo orgânico gerado a partir desse processo, conhecido também como o húmus de minhoca, é rico em flora bacteriana e ajuda a fornecer às plantas uma nutrição equilibrada e maior resistência a doenças. Para montar uma vermicomposteira doméstica são necessárias 3 caixas plásticas escuras (sendo uma com tampa), folhas secas e galhos pequenos e cerca de 100 minhocas. As caixas deverão ser empilhadas em três níveis. Nas duas superiores devem haver pequenos furos, que serão responsável pela comunicação entre uma caixa e outra. São nessas caixas que será feita a compostagem (processo de decomposição natural). A última caixa será utilizada apenas para coletar o resíduo líquido orgânico, que, se diluído, pode ser utilizado para regar plantas e hortas.


O primeiro passo é forrar o fundo da caixa superior com folhas secas e pequenos galhos ou serragem. Esta primeira camada vai funcionar como dreno para a composteira. Em seguida deve-se colocar a terra com as minhocas e logo acima os resíduos orgânicos. É importante que os resíduos sejam cobertos com outra camada de folhas secas para contribuir com a oxigenação. Isso também garante que não se gere odor no processo.


COMPOSTEIRA SEM MINHOCAS

O processo é quase o mesmo, mas o desenvolvimento do adubo tende a ser mais lento. O segredo da técnica é oxigenar a mistura. Então, sempre que possível, remexa o composto para adicionar oxigênio. Essa compostagem leva um pouco mais de tempo do que a compostagem com minhocas, mas, em cerca de dois a três meses, dependendo do tamanho da composteira, ele ficará pronto.


Fontes: Projeto Compostagem com Ciência, do Instituto de Química de São Carlos e Universidade Federal do Vale do São Francisco.



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